Há mais de dez anos não abro meus exemplares de All-star Superman, clássico moderno das histórias do Homem de Aço escrita por Grant Morrisson com arte do Frank Quietly. Nessa história, em algum momento Superman precisa enfrentar um monstro chamado Cronôvoro. Lembro que o monstro e o nome me marcaram por causa da ideia, como muitas de Morrisson, que ficou em minha mente até hoje. O monstro, como o nome sugere, comia o tempo das coisas e das pessoas. Desde que retornei de Sobral sinto que estou na boca do Cronôvoro. Os dias somem com uma rapidez estúpida e por mais que esteja saindo e me relacionando com pessoas, trabalhando e lendo, organizando coisas do livro e me preparando para ir ao Rio ver Giovanna, parece que não estou fazendo nada. Isso porque escrever é a última coisa que consigo fazer e deveria ser a primeira. Por isso que estou aqui hoje, depois de quase dois meses longe até do diário. Rasgando a boca do monstro e forçando passagem através de tantas peripécias de adulto que me limitam na coisa que mais me dá força na vida. Muitas ideias surgem todos os dias e muita escrita ainda está em ebulição aqui dentro, mas me sinto afogado nessas coisas que me tomam atenção preciosa. Finalmente chegou o momento de dar um foda-se até pro trabalho e começar a bancar o escritor doido enclausurado no quarto, escrevendo noite e dia sem parar. Porque é assim que a coisa funciona pra mim. Não adianta eu querer seguir à risca conselhos de disciplina e organização do tempo, definir prioridades ou qualquer merda dessas. Eu não sou como a Vanessa ou como qualquer outro escritor que consegue manter aquela rotinazinha de determinar um tempo pra escrita e quando o despertador toca, é fechar o caderno e ir fazer a próxima coisa da lista. Se eu sento pra escrever eu não vou sequer comer até terminar o que estou fazendo. E eu preciso de um dia inteiro pra isso, talvez dois, talvez uma semana direto, sem parar. Minha cara fica toda peluda (com o que não ouso chamar de “barba”), meus lábios descascam e a casa vai se enchendo de poeira e uma pilha de pratos se ergue sobre a pia. Ela, Vanessa, falaria de mentalidade a ser modificada, mindset ou algo assim, mas é como me dá prazer e me impulsiona. Escrevi Nena e as Nuvens... em dois dias. Meus contos são assim, mesmo os maiores. E quando eu coloco qualquer outra coisa como prioridade de vida, a escrita some, porque eu preciso ir numa porra de banco ou num supermercado. Se eu não dou uma de doido e ignoro o mundo, a escrita não acontece. Não lembro como Superman mata o Cronôvoro em All-star. Mas eu quero só correr com minha máquina de escrever pra longe dele. Fugir para a colina.
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
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